sexta-feira, 16 de maio de 2008

Formar para vencer ou formar para vir a ser?

Não poderia deixar de falar na primeira coluna em termos gerais do trabalho com o basquetebol. Considero o trabalho com basquetebol algo fascinante. Não bastasse o ensino da técnica exigir uma combinação de movimentos específicos como driblar, correr, saltar e arremessar etc. O basquetebol envolve além desses fatores, uma gama de conhecimentos específicos como noções de espaço e tempo, posicionamento de defesa, uma dualidade entre atacar e ser atacado tanto no ataque quanto na defesa (a defesa hoje em dia necessita atacar o ataque) a cada 24 segundos.

E um tipo de esporte onde tantos fatores inferem e cruzam informações simultâneas, é preciso procurar saber o que queremos passar aos nossos atletas e o que podemos alcançar com isso através dos anos.
Faço-me constantemente a mesma pergunta:

Formamos nossos jovens para tentar superar os desafios do esporte ou formamos para apenas vencer campeonatos?

Acredito que não há mal nenhum em querer vencer o campeonato, mas há mal em objetivar apenas isto em um trabalho de formação. Um esporte com extrema capacidade de variáveis dentro de quadra como brevemente citei no início deste texto, tem também, variáveis incríveis que são trabalhadas em quadra, mas inconscientemente levado para fora dela como concentração, tomada de iniciativa, espírito de grupo, perseverança, pensamento estratégico e outros tantos mais.

Quando pensamos em formação de atletas, devemos ter um pensamento amplo e buscar o aprendizado em outras esferas além da vitória apenas pela vitória. Devemos saber que precisamos dar ênfase à preparação técnica em seus fundamentos em geral, preparação tática gerando ao atleta uma melhor compreensão do jogo individual e coletivo, preparação física não apenas no que diz respeito à força e resistência, mas principalmente na base no que se refere aos atletas aprenderem a correr e se deslocar da melhor maneira (muitos atletas não têm uma boa técnica de corrida, um ótimo tema para uma futura coluna), preparação psicológica gerando um melhor conceito do atleta consigo mesmo diante do seu esforço e seus desafios, preparação coletiva propiciando que o atleta deva fazer o melhor dele para o bem do grupo, e por fim, uma formação complementar na qual envolve a relação deste atleta com sua família com seus amigos e criar um ambiente esportivo prazeroso e salutar.

Se nos voltarmos para esses tópicos, teremos em nosso campeonato a equipe campeã, mas certamente teremos não só na equipe campeã como em todas as outras equipes, a capacidade de analisar as pequenas vitórias alcançadas através dos treinamentos e jogos com o esforço dos atletas e os obstáculos superados. E assim, temos a possibilidade de mostrar que o esporte é muito mais que uma vitória ou derrota dentro de quadra. .O basquetebol é um estilo de vida que compreende variáveis levadas pro resto de sua vida. Dessa forma faremos à diferença naqueles que por ventura tiverem a chance de se tornarem jogadores profissionais e diferenciaremos também na vida daqueles que levarão o basquete como uma das melhores fases de aprendizado de sua vida. Sou fruto de professores/técnicos que trabalharam nesse ideal e só posso me dar à missão de dar continuidade neste sonho. O sonho de um basquete que não forme para apenas vencer, e sim, que forme para o atleta vir a ser alguém capaz de correr atrás de seus sonhos.

Resolvi escrever esta primeira coluna logo após assistir um vídeo de uma palestra na qual tratava justamente deste tema apresentado por Ricardo Bojanich - professor/técnico argentino das categorias de base do clube Gimnasia y Esgrima da Argentina. E gostaria de finalizar esta coluna com uma frase que ele cita na qual acredito ser em resumo, o que devemos tentar criar no interior de cada atleta:

“.. abrir sua cabeça para aprender
abrir seu coração para sacrificar-se..”


Só assim acredito que podemos evoluir cada dia mais.

Abraço a todos.

Rodrigo Galego.

domingo, 4 de maio de 2008

Prioridades em equipes esportivas nas suas diversas categorias

Neste meu primeiro contato com os leitores desse blog gostaria de abordar as prioridades para quem atua com o basquetebol nas suas diversas faixas etárias. Não pretendo aprofundar sobre os aspectos técnicos, táticos e psicossociais, mas, caso haja interesse, poderei tratar sobre eles em futuros textos.

Os planejamentos táticos, técnicos e psicológicos de uma equipe esportiva exigem um estudo prévio das condições oferecidas para o treinamento: os objetivos da equipe, o material humano que estará à disposição para a realização deste trabalho, e os princípios morais que irão nortear os critérios adotados pelos técnicos ou professores da equipe.

No início do trabalho devem ser analisadas as condições materiais, disponibilidades de horário para treinamento, filosofia do trabalho (formação, lazer, competição, etc.), formação dos profissionais que comporão a comissão técnica e as expectativas em relação aos resultados (curto, médio ou longo prazo).

É imprescindível antes de iniciar o planejamento técnico e tático de qualquer modalidade coletiva, definir alguns pontos sobre princípios éticos e de convivência da equipe.

O basquetebol como a maioria dos esportes, quando bem utilizado, é, sem sombra de dúvidas, um poderoso instrumento educativo. Independente do nível em que estamos atuando devemos priorizar o respeito ao ser humano, a sua individualidade, e as regras básicas de justiça e convivência social.

Deve-se desde cedo priorizar o aspecto coletivo do basquetebol acima do talento individual. Michael Jordan costumava afirmar que “talento vence jogos, mas o trabalho de equipe vence campeonatos”. Podemos notar, portanto, que um dos pontos mais importantes a se trabalhar deve ser o trabalho de equipe, a interação técnico-jogador, jogador-jogador e as dinâmicas de grupo.


PRIORIDADES NAS CATEGORIAS DE BASE (até os 13 anos)

É importante estabelecer desde cedo os princípios que nortearão os aspectos educativos nas equipes de base. Sabemos que a prática esportiva para a criança tem papel fundamental na formação da sua auto-estima, seu papel social e sua necessidade de pertencer a um grupo. Portanto, devemos ter consciência que atitudes impensadas ou que promovam discriminação em uma equipe iniciante, pode ter repercussões desastrosas na vida pessoal da criança e na sobrevivência da própria equipe.

Em vista disso, uma das prioridades na formação de uma equipe de base deve ser a preocupação com as normas que vão reger a conduta dos membros desta equipe.

Quando uma criança inicia sua vida esportiva a prioridade é a sua formação humana. Nesta fase é imprescindível fazer com que os iniciantes assimilem os valores éticos, a superação e o esforço, os quais mais tarde os distinguirão como desportistas e como seres humanos.

Nesta fase o treinamento deve ser voltado para a relação com os companheiros; uma preparação que envolva a coordenação motora; a consciência corporal; a ampliação do repertório motor; consciência dos elementos do jogo (bola, companheiros, situações espaciais, etc). Devemos afastá-los da hipervalorização da vitória, de avaliações precipitadas sobre resultados e da busca por medalhas e classificações finais. Neste ponto devemos educar também os pais, pois a ansiedade deles em relação a performance dos filhos, quando não controlada, pode prejudicar a participação da criança no campo esportivo.

Quanto ao trabalho técnico devemos introduzir os fundamentos do jogo priorizando a ludicidade no esporte, onde a criança possa desenvolver o maior repertório de movimentos sem preocupação com a técnica específica da modalidade. As brincadeiras e os jogos pré-desportivos devem nortear a programação de treinamentos (se é que podemos chamar assim esta fase de iniciação). Devemos levar sempre em conta que a maioria das crianças entra no esporte em primeiro lugar para se divertir e secundariamente em aperfeiçoar-se na modalidade praticada. O fundamento do passe deve ser bastante valorizado, pois este, é a essência do jogo coletivo. Os demais fundamentos devem ser trabalhados sem que se exija um nível alto de execução, mas fazendo com que os praticantes entendam a necessidade de se aprimorar cada vez mais em cada um deles.


CATEGORIAS INTERMEDIÁRIAS: (Dos 14 aos 17 anos)

Nesta fase deve-se priorizar a execução correta dos movimentos técnicos. É aqui que os jogadores adquirem os hábitos principais que irão desenvolver durante sua carreira desportiva. Para tanto devemos aprofundar os fundamentos individuais e coletivos.

Nesta fase devemos corrigir os “vícios” dos movimentos mal executados. O jogador deve passar o maior tempo possível testando movimentos, e observando outros jogadores de maior nível. É importante passar conceitos coletivos aos jogadores fazendo com que os mesmos entendam como ocorre o jogo e não executando estes movimentos de forma automática, sem uma reflexão.

Nesta etapa a formação técnica deve ser aliada aos conhecimentos táticos do jogo (falarei sobre os princípios táticos e pré-táticos em artigo posterior). É importante que o jogador aprenda a analisar a situação do jogo, entender as ações que acontecem e buscar soluções coletivas para elas. Deve ser estimulada a dimensão cognitiva de cada participante visando facilitar o trabalho físico e técnico que serão exigidos no jogo.

Preservar o espírito de conjunto e o respeito ao trabalho coletivo é fundamental. Muitos técnicos em busca da vitória imediata abrem mão dos princípios éticos e de convivência do esporte. A prioridade para o técnico deve ser estabelecer o seu critério ético, a segunda, ganhar. ”Se impomos nosso critério e ele é bom, é certo que mais cedo ou mais tarde venceremos”. (Manel Comás)

O técnico da equipe deve ter paciência com a evolução, pois a melhora nesta fase se dá de forma lenta, porém a assimilação será mais consistente.


CATEGORIA JUVENIL: (17 a 18 anos)

Nesta categoria é importante um aprofundamento dos princípios táticos do jogo e a lapidação técnica dos fundamentos. Os jogadores já devem estar maduros para encarar com mais seriedade e empenho os treinamentos, a competição e seus resultados. Devemos conhecer os objetivos que tentamos alcançar e os objetivos de cada jogador. Deve-se mostrar a importância da coesão do grupo para o alcance dos objetivos da equipe. A formação dos princípios morais e éticos realizados desde o início da vida esportiva será fundamental nesta etapa. Na verdade, esta formação acontecerá durante toda a carreira atlética tanto de jogadores como de técnicos.


CATEGORIA PRINCIPAL (adulto)

Ao chegar à categoria principal deve-se aproveitar ao máximo toda a performance técnica dos jogadores como também seu conhecimento tático, sempre em prol do trabalho coletivo.

O jogador deve persistir no seu aperfeiçoamento, pois, pela complexidade técnica e tática do jogo de basquetebol, não existe um jogador que saiba tudo do jogo. Mesmo os melhores jogadores do mundo ainda têm coisas a melhorar.

Nesta etapa o jogador deve ser eficiente e participativo. Deve ser obediente nas questões táticas e humilde para colocar sua individualidade à disposição do coletivo. Deve saber “ler” o jogo e fazer as opções corretas dentro da partida. Deve entender que a performance do jogo depende da aplicação no treinamento e que o esforço coletivo é o caminho mais seguro para as vitórias.


Todas estas prioridades devem ser conduzidas por professores/técnicos que realmente acreditem no papel educativo do esporte, e que entendam que as vitórias em jogos são passageiras, mas a formação humana é o que realmente ficará na vida dos seus comandados.

Até o próximo artigo!

Ronaldo Pacheco