domingo, 16 de novembro de 2008

Planejando a temporada

Na maioria das vezes, ser técnico de basquete ou de esporte amador em geral é ser um abnegado que abre mão de outras coisas a se fazer na vida para conduzir um trabalho de formação no esporte que amamos. Levamos então, como o Prof. Ronaldo Pacheco descreveu muito bem em sua coluna sobre técnicos de basquete, uma mistura pessoal de experiências vividas, sonhos, estudos e aprendizagem durante o tempo de trabalho com a modalidade.


No meio dessa mistura de influências que o técnico vive e constrói o seu trabalho, uma questão deve ser inabalável: o Planejamento. Este deve ser a viga que sustenta qualquer trabalho. Planejar para gerar qualidade na sua atuação, na sua informação. Existe uma diferença entre falar de improviso reagindo aos acontecimentos e preparar sua fala e ações para as situações que podem vir a acontecer. É na informação que está o caminho para a construção do seu atleta. E nesse processo de construção você transforma a informação em conhecimento. E com o conhecimento em mãos, o atleta será capaz de saber o que fazer e como fazer. Aí está a essência do técnico. Gerar informação e transformá-la em conhecimento. E o planejamento sempre vai te fazer buscar esse caminho.

Uma das características mais importantes do planejamento é a flexibilidade que ele deve ter. Durante uma temporada muitos acontecimentos mudam, opções táticas, de treinamento e de atletas com o qual você pode contar. Portanto, saber planejar é também saber que nem tudo que está no papel vai seguir a mesma seqüência. Desse modo, planejar fazendo um contínuo acompanhamento deste, faz com que você tenha uma boa condição de organizar e prever o seu trabalho, redirecionar o caminho a seguir e te oferece um feed-back mais palpável sobre o que tem sido feito. Deve-se lembrar que o planejamento se inicia por traçar objetivos, metas e é de suma importância que os mesmos não estejam colocadas acima das reais condições da sua equipe. Os objetivos devem ser desafiadores, exigirem esforços, determinação porém devem ser possíveis. Objetivos acima da capacidade de uma equipe podem gerar frustrações.

Ao planejar o técnico se depara com muitas dúvidas e questionamentos. Alguns ligados a objetivos e outros à metodologia, que são comuns a esse tipo de trabalho.
Reforço que os objetivos devem ser traçados diante das condições de trabalho que se tem. Analisar as opções de treinamento e a realidade de seu grupo de atletas pode dar um melhor sentido ao trabalho e fazer com que o grupo possa aprender através da prática do treinamento e para isso é necessário tempo. Muitas vezes o técnico numa típica ansiedade de ver o resultado acontecer, trabalha para que aquele atleta ou grupo alcance os resultados na temporada em que está acontecendo. É preciso entender que em se tratando de trabalho de formação, a evolução se dá com o tempo. Elaborar objetivos e a partir dele estabelecer metas de curto e médio prazo pode fazer com que o trabalho se torne mais efetivo.
Através dos resultados, vitórias e derrotas, busque enxergar o que seu grupo necessita para melhorar. Seja sincero com você e com seus ideais. O título passará através dos anos, mas a formação humana, cognitiva, afetiva e social que você pode dar a este atleta, jamais será esquecida. A cada acontecimento, será você técnico que será o exemplo de como reagir ao resultado. Saiba perder, saiba vencer. Saiba mostrar quando a equipe falhou muito mais que um simples erro de arbitragem. Saiba ver os pontos positivos do adversário mesmo quando o vence por mais de 30 pontos. Seja exemplo e não apenas palavras. Cobre, elogie, questione, compreenda a dificuldade, enalteça os pontos fortes, mostre que as falhas podem ser melhoradas e que não são apenas defeitos fechados em si. Não espere que o retorno disso tudo aconteça sempre em suas mãos.

Faça porque é importante fazer e não porque você colherá o fruto em troca.

Planejar é investir na qualidade do seu trabalho. E através dos anos o planejamento torna-se uma experiência para a montagem de futuras temporadas.


Abraço a todos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O que aprender com o basquetebol?

Muitos esperam aprender a fazer cestas, ganharem milhões, serem famosos e reconhecidos nas ruas ou serem heróis, mas o que se aprende realmente jogando basquete? O Basquete é um esporte de grupo, de equipe. Não se joga nem se ganha sozinho. Um depende do outro para que o jogo aconteça. É fato comprovado pela história, nenhum grande jogador é campeão sozinho, o grande time vencedor do Chicago Bulls levou 6 anos após a chegada de Michael Jordan para vencer o primeiro campeonato da NBA. Não bastava ter um gênio, era necessário construir uma equipe.

O treinamento de um grupo de atletas deve ter o ensino do drible, do passe, do arremesso, da marcação, a serviço de uma meta, de um projeto maior do que, simplesmente, ensinar o jogo de basquete.

Ao se iniciar o treinamento de um grupo de atletas definir a filosofia de trabalho é um dos primeiros passos.

Assumir uma filosofia, um pensamento, algo que reúna que sintetize o pensamento de todos. É com base nesta filosofia, usando ela como pilar que se inicia a construção de um grupo. Esta base tem que ser sólida e agregar valores da sociedade. Essencial neste momento é formar primeiro o homem, o ser humano: caráter, honestidade, autoconfiança, humildade, solidariedade, reconhecimento, devem estar presentes. Como conseqüência teremos um “atleta” na essência da palavra.

O caminho que se trilha deve estar recheado com os fundamentos do basquete, mas a essência é a formação do ser humano. Capaz de perceber que do outro lado, como adversário, está outro ser humano que merece respeito e admiração, pois no mínimo tem um ponto em comum, “o basquete”. Capaz de perceber que ao seu lado existem mais seres humanos, que acertam e erram, e que continuam ao seu lado.


Viver e entender o paradoxo de que o adversário é companheiro e que companheiro também é concorrente, consolida a visão do ser humano que vive em sociedade, em grupo, que partilha a alegria e a dor, a frustração e a euforia e encontra no semelhante o exemplo e o desafio.
Para a criança, aprender brincando é parte do crescimento. Desde os primeiros momentos, as primeiras brincadeiras, a filosofia do técnico deve estar presente e servir de parâmetro para orientar os desafios. Se o aluno que termina primeiro é sempre o que recebe a glória estaremos dizendo que o que vale é vencer. Por outro lado, se valorizamos aquele que não chegou primeiro, mas se esforçou para concluir estaremos jogando luz sobre o esforço, a dedicação. Desta forma, pode surgir a solidariedade, o momento em que vencer pode ser partilhado com alguém que ajudou na conquista. A filosofia de ensinar algo mais do que simplesmente jogar basquete tem que estar à frente, orientando, e ao mesmo tempo dentro de tudo o que se faz, permeando todas as ações. Dar oportunidade a todos, mesmo àqueles que não parecem ter aptidão, acreditar na construção dos alicerces da formação do ser humano, mesmo que não possam ser vistos.

Com o basquete, temos a oportunidade de aprender a “ser gente” e, de quebra, aprender a defender, passar, driblar e fazer cestas.

Eis o que aprender...



Marco Costa

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Técnico de Basquetebol: Vocação, preparação ou experiência?

No meu artigo anterior me referi às prioridades em equipes esportivas nas diversas categorias. Creio ser fundamental este embasamento para que se possa realizar um trabalho adequado que leve os praticantes da modalidade a ter um correto desenvolvimento motor, social e afetivo dentro do esporte.

No entanto, é importante falar das pessoas que devem dirigir as aulas ou treinos dessa modalidade esportiva.

Durante muito tempo tivemos ex-jogadores comandando escolinhas esportivas ou equipes de alto nível, baseando seu trabalho em suas experiências anteriores, sem buscar informações atualizadas sobre psicologia, administração esportiva ou desenvolvimento humano. Quando muito, se atualizavam em cursos técnicos ou oficinas de basquetebol que tratavam muito da técnica do jogo, alguma coisa da tática, e quase nada sobre os temas acima mencionados. Hoje já começamos a notar uma melhor seleção na escolha de técnicos com formação em educação física, que procuram se atualizar a partir da leitura de livros e trabalhos internacionais nas diversas áreas que envolvem o treinamento esportivo.

É lógico que ter conhecimento da parte teórica do jogo não assegurará sucesso na carreira de técnico, no entanto o embasamento teórico é um suporte fundamental que será melhor desenvolvido a partir da experiência prática do jogo, da análise dos seus erros e acertos e principalmente na humildade para ouvir e assimilar críticas construtivas.

Um técnico é o responsável por todo o funcionamento de uma equipe e, quando me refiro a “funcionamento” estou me referindo ao tratamento da complexa engrenagem de um grupo social que se propõe a atuar em conjunto, em prol de um objetivo comum. Esta “máquina humana” para conquistar seus objetivos deve estar ajustada nos seus relacionamentos (estar coesa); deve estar disposta a um sacrifício coletivo a partir do sacrifício individual (cada um contribuir da melhor forma no desempenho do seu papel para o sucesso da equipe); deve ter um conhecimento do jogo nos seus aspectos táticos e um bom desenvolvimento dos fundamentos técnicos para que possam ser devidamente utilizados dentro da tática. Estas diversas tarefas são complementares e necessitam de um planejamento e acompanhamento incessante por parte do técnico. Não se pode admitir que o tratamento que um técnico dê a estes aspectos seja feito de forma empírica. Por isso a necessidade de estudos, planejamentos e aprofundadas análises críticas do seu desempenho.


A partir de estudos e das observações proporcionadas por estes anos na prática do basquetebol, me vi muitas vezes adotando posturas que me fizeram refletir sobre os diversos tipos de conduta dos técnicos ao lidar com sua equipe:
  • Técnico Torcedor: Confunde a paixão pelo clube ou pelo esporte com a sua função. Tem atitudes completamente passionais. Exclui do grupo os que não estão dando resultados imediatos. Quer a vitória incessantemente, sem fazer uma análise racional das condições de trabalho, da própria equipe e do nível da competição. No banco, grita , xinga, torce e dá poucas instruções úteis à equipe. Perde a cabeça com o juiz cada vez que o mesmo comete qualquer erro. *
  • Técnico Exibicionista: Considera-se o eixo central da partida. Coloca a culpa nos jogadores sempre que a equipe perde. Suas broncas são sempre em voz alta para que a torcida possa sentir a sua presença e seu pulso firme com a equipe. Quando a equipe está perdendo com grande diferença, fica quieto, mostrando ao público que não faz parte daquele grupo perdedor. Faz pedidos de tempo desnecessários para que notem sua presença no jogo. Fala sempre na primeira pessoa: “minha equipe”, “meus atletas”, em compensação quando as coisas não vão bem diz: “a equipe perdeu”, “eles não mereceram a vitória”, “a equipe não teve garra”, etc. Se isenta da responsabilidade quando o resultado não é favorável.
  • Técnico Autoritário: Todos devem seguir as suas idéias. Não cabe a ninguém da comissão técnica, muito menos aos jogadores discutir suas opiniões, devem cumpri-la; Assume os erros, mas não aceita as críticas.
  • Técnico Bonzinho: Conhece os princípios básicos do jogo, mas nunca entra em confronto com as idéias dos jogadores para não criar problemas para equipe. Prefere abrir mão de algumas convicções de jogo para não ferir o ego e algum atleta que ele julgue muito importante para a equipe. Procura agradar a todos para que seja do agrado de todos também.
  • Técnico Teórico: Estuda o jogo, conhece bem os diversos procedimentos técnicos e táticos, mas tem dificuldade em transmiti-los aos jogadores. Não tem paciência com os erros por achar a execução muito simples; Não consegue lidar com os aspectos emocionais dos jogadores. Na maioria das vezes não consegue entender as situações de fracasso já que fez tudo de “acordo com o manual”.
  • Técnico Democrático/Educador: Aberto ao diálogo com toda a comissão técnica e jogadores. Discute com a equipe suas opiniões. Tenta fazer com que toda a equipe compreenda as opções tanto táticas como técnicas. Preocupa-se com as questões particulares de cada um. Entende os erros, corrige-os e admite suas próprias falhas. Sabe respeitar a individualidade de cada jogador, suas características psicológicas e seus momentos emocionais. Assume as responsabilidades pelas derrotas perante os outros, porém conversa com sua equipe sobre os erros que a originaram tentando corrigi-los. Sabe ouvir as críticas sem levar para o campo pessoal. Sabe chamar a atenção na hora e da forma devida. Faz valer a sua autoridade pela competência demonstrada.
É claro que posso ter “caricaturado” as situações acima expostas, mas creio que nós técnicos, já passamos por algumas dessas fases em diversos momentos de nossa atuação. O importante é que possamos fazer uma análise para que possamos atender as nossas perspectivas em relação a esta profissão.

Ser técnico de uma modalidade tão complexa como o basquetebol exige bastante conhecimento nas diversas áreas ligadas ao jogo e ao relacionamento humano, portanto, respondendo a provocação do título do artigo, creio que para ser um bom técnico de basquetebol é necessário, muito conhecimento teórico (obtido através do estudo incessante), o aproveitamento das experiências vividas (com uma análise criteriosa) e um pouco de vocação. Tudo isso cercado por uma grande dose de paciência, obstinação e sentir a necessidade de estar aprendendo sempre.

Prof. Ronaldo Pacheco

terça-feira, 2 de setembro de 2008

SUPERANDO OS DESAFIOS

Serei sempre repetitivo em falar que o trabalho com basquetebol proporciona aprendizados além das quadras. Mas para esses aprendizados serem interiorizados em cada atleta, diversos desafios precisam ser superados dentro de quadra tanto nos treinamentos quanto no jogo.


O medo de errar talvez seja uma das maiores entraves para atletas e técnicos.

Para os atletas, se o medo de errar for maior que a vontade de aprender e se experimentar, pode causar uma dificuldade em querer aperfeiçoar seus recursos técnicos.

Quem nunca viu em um treino algum jogador sair livre para o contra-ataque pela esquerda, por exemplo, e mudar para a direita com medo de errar e garantir os pontos? A mesma situação serve invertida também para os canhotos.

Os pontos são convertidos no coletivo, mas a chance do atleta de ganhar a confiança necessária pelo lado que lhe causa desconforto é desperdiçada.

E sem notar, o atleta vai deixando de acrescentar variações em suas habilidades por confortar-se com o que já tem de muito bom. Com o tempo, os adversários vão identificando suas limitações e este vai se tornando alvo fácil de ser marcado ou anulado. Quando mais velho, vão lhe incutir uma visão reducionista de que se não aprendeu lá atrás, não aprenderá mais.

Dessa forma, percebe-se o quanto o atleta se “sabota” através do tempo de várias formas como tentarei citar em alguns exemplos:

- Aquele atleta que é bom do arremesso de longa distância e deixa de especializar e acrescentar no seu treino o trabalho de infiltrações e bandejas.

- Aquele que tem ótimo domínio e corte para infiltrar, mas que deixa de treinar incessantemente seus arremessos de curta e longa distância.

- Aquele que é um grande pontuador e deixa de dar atenção ao aprendizado em seu deslocamento em base de marcação e ser um bom marcador.

- Aquele que é amigo e divertido com todos os colegas de equipe, mas que deixa de lado a capacidade de cobrar empenho de seus companheiros e ser duro quando necessário.

- Ou aquele que é aguerrido, empenhado e que cobra de todos os companheiros de equipe, mas esquece de aproveitar os momentos de prazer que o basquete proporciona, deixa de reforçar os laços de amizade e “curtir” a alegria que é jogar basquetebol.

É impossível ao tratar deste tema, não lembrar uma frase marcante que diz algo sobre erros e acertos dita por Michael Jordan:

"Errei mais de nove mil arremessos na minha carreira. Perdi mais de 300 jogos. Em 26 ocasiões, acreditaram que eu ganharia o jogo no arremesso decisivo e errei. Fracassei, fracassei muito na minha vida. E é por isso que eu sou um vencedor."


Acima de tudo, é preciso saber que você sempre pode aprender algo e superar suas deficiências em qualquer idade. Acreditar nisso, é o primeiro passo para fazer seu trabalho e esforço valer a pena.

Ao fazer esta declaração a favor de experimentar e testar suas possibilidades sempre, não quero que seja confundido com o descompromisso de fazer qualquer coisa e alegar que está apenas tentando evoluir. Existe o momento certo de se testar e experimentar, e também existe o momento certo de praticá-lo. Muitos atletas não treinam com a devida intensidade e avidez por melhorar se guardando para o jogo.

Descobrir esse momento em que se deve testar e desafiar seus próprios limites é que traz o aprendizado necessário tanto como atleta como para a vida pessoal. Assim você passa a se conhecer melhor e entende que ter certo medo (é preciso transformar o medo em um estresse positivo) é necessário pra te deixar concentrado desde que ele não supere sua busca pela melhoria.

Lembre-se: Quando estiver em quadra, você estará representando seus companheiros que estão no banco e outros que nem escalados pro jogo foram. Precisará com o tempo saber mesclar a responsabilidade de representar seus companheiros de equipe com concentração e dedicação, mas que essa responsabilidade não se torne um peso onde o faça temer falhar.

Só essa busca por aprender a cada dia te fará crescer.

Observe em si seus maiores medos e falhas e não se martirize por isso. Todos têm limitações. O importante ao identificá-los, é conversar com seu técnico sobre como pode melhorar e começar a treinar.

Nada se compara a sensação de realização quando se consegue praticar algo fruto do próprio esforço.

E aí !? Está pronto para tentar ?

A todos que se sentiram desafiados por esta coluna a se conhecer melhor e seguir em frente independente do que aconteça, deixo-os com uma frase que gosto muito e que de tempos em tempos, leio pra lembrar que vale a pena lutar pelo que acreditamos:

“Por que devemos continuar, mesmo que todas as circunstâncias pareçam desencorajadoras? Porque pode dar certo. Mesmo que não dê totalmente certo, a simples busca de obter sucesso faz com que olhemos para frente e não para trás.”

Dale Carnegie




Abraço a todos.


Rodrigo Galego

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Desculpas ao esporte e aos atletas Brasileiros

Vendo os atletas brasileiros pedindo desculpas pela não obtenção de medalhas e sobre o que se faz pelo esporte no Brasil, resolvi escrever este texto que na minha opinião reflete sobre quem deve desculpas a quem.

Abraços, Ronaldo Pacheco

DESCULPAS AO ESPORTE E AOS ATLETAS BRASILEIROS

Desculpem pela falta de espaços esportivos nas escolas;

Pela falta de professores de educação física nas séries iniciais;

Pelas escolinhas mercantilizadas que buscam quantidade de clientes e não qualidade de aprendizagem;

Desculpem pela falta de incentivo na base;

Desculpem pela falta de praças esportivas;

Desculpem pelo discurso de que "o esporte serve para tirar a criança da rua" (é muito pouco se for só isso!);

Desculpem pela violência nas ruas que impede jovens de brincar livremente, tirando deles a oportunidade de vivenciar experiências motoras;

Desculpem se muito cedo lhe tiraram o "esporte-brincadeira" e lhe impuseram o "esporte-profissão";

Desculpem pelo investimento apenas na fase adulta quando já conseguiram provar que valia a pena;

Desculpem pelas centenas de talentos desperdiçados por não terem condições mínimas de pagar um transporte para ir ao treino, de se alimentar adequadamente, ou de pagar um "exame de faixa";

Desculpem por não permitirmos que estudem para poder se dedicar integralmente aos treinos.

Desculpem pelo sacrifício imposto aos seus pais que dedicaram seus poucos recursos para investir em algo que deveria ser oferecido gratuitamente;

Desculpem levá-los a acreditar que o esporte é uma das poucas maneiras de ascensão social para a classe menos favorecida no nosso país;

Desculpem pela incompetência dos nossos dirigentes esportivos;

Desculpem pelos dirigentes que se eternizam no poder sem apresentar novas propostas; Desculpem pelos dirigentes que desviam verbas em benefício próprio;

Desculpem pela falta de uma política nacional voltada para o esporte;

Desculpem por só nos preocuparmos com leis voltadas para o futebol (Lei Zico, Lei Pelé, etc.);

Desculpem se a única lei que conhecem ligada ao esporte é a "Lei do Gérson" (coitado do Gérson);

Desculpem pelos secretários de esporte de "ocasião", cujas escolhas visam atender apenas, promessas de ocupação de espaços político-partidários (e com pouca verba no orçamento);

Desculpem pelos políticos que os recebem antes ou após grandes feitos (apenas os vencedores) para usá-los como instrumento de marketing político;

Desculpem por pensar em organizar "Olimpíadas" se ainda não conseguimos organizar nossos ministérios; nossas secretarias, nossas federações, nossa legislação esportiva;

Desculpem por forçá-los, contra a vontade, a se "exilarem" no exterior caso pretendem se aprimorar no esporte;

Desculpem pela cobrança indevida de parte da imprensa que pouco conhece e opina pelo senso comum.

Desculpem o povo brasileiro carente de ídolos e líderes por depositar em vocês toda a sua esperança;

Desculpem pela nossa paixão pelo esporte, que como toda paixão, nem sempre é baseada na razão;

Desculpem por levá-los do céu ao inferno em cada competição, pela expectativa criada;

Desculpem pelo rápido esquecimento quando partimos em busca de novos ídolos;

Desculpem pelas lágrimas na derrota, ou na vitória, pois é a forma que temos para extravasar o inexplicável orgulho de ser brasileiro e de, apesar de tudo, acreditar que um dia ainda estaremos entre os grandes.



Prof. MSc. Ronaldo Pacheco de Oliveira Filho

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Começar bem é muito bom!

Caro amante do Basquetebol, é com alegria e entusiasmo que recebi o convite para ser colunista do Pratica Basquete.

Acredito que a escola deve ser o berço do esporte. O lugar onde damos os primeiros passos e nos preparamos para um futuro pleno, seja como esportista dirigente ou simplesmente como pessoa que torce, incentiva e apóia o esporte. Minha crença se baseia no simples fato de ser a escola o local natural para uma criança desenvolver suas habilidades cognitivas, motoras e sociais. Se a escola preparar-se para oferecer as condições necessárias, ela realmente será imbatível na preparação de futuros atletas e cidadãos.

O que me encanta na escola é o aluno, a sua capacidade de aprender, de entregar-se ao novo com alegria e dedicação e, principalmente, a sua vontade de acertar, de fazer correto. Ao professor, cabe criar um ambiente que possibilite a aprendizagem. À direção da escola, planejar e oferecer as condições necessárias para que aluno e professor possam desenvolver seus potenciais.

O professor terá vários momentos para priorizar determinado aspecto. O primeiro passo é cativar, seduzir, atrair, ganhar a simpatia do seu aluno. Fazer com que a relação entre professor e aluno seja de afeto, respeito e confiança. Isso adquiri-se com palavras e ações, demonstrando que todos serão respeitados em suas limitações, que acima do “fazer bem” está a dedicação. O professor deve valorizar e estimular a dedicação com a qual o aluno se entrega à atividade, reconhecendo isto diante do grupo, deixando claro que o esforço para fazer está acima do fazer bem feito.

O reconhecimento para quem é hábil é natural, todos admiram, olham, falam, querem fazer parte do mesmo time. O professor deve equilibrar este fato enfatizando a dedicação de cada um.

Este ambiente, onde o erro ao aprender é aceito como normal e faz parte do processo, onde o erro não se torna pressão, faz com que todos se sintam a vontade para tentar se abrindo cada dia para o novo. Se expondo muitas vezes a situações ridículas sem a vergonha do não conseguir. Começamos assim a desenvolver outro ponto essencial, “o sentido de equipe”. Um colega se comprometer com o aprender do outro, aprender a respeitar que cada um tem seu próprio tempo. Quando o professor consegue estabelecer um ambiente em que errar faz parte do processo de aprender e a vontade de acertar é que vale, acertar se torna mais fácil.

Uma vez cativado o aluno, o professor deve se concentrar em motivá-lo. Despertar seu interesse e sua curiosidade pelo esporte, sem perder de vista os fatores idade, sexo e situação sócio-cultural, entre outros. A identificação do que motiva o grupo e cada um dos alunos é uma tarefa importante para que eles conquistem sucesso e alcancem metas.

Cativar e motivar estão intrinsecamente ligados, e são tarefas prioritárias para uma boa iniciação no esporte. Um aluno seduzido e motivado para o esporte estará pronto para superar as dificuldades e, começar bem, é sempre bom.
Marco Costa

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Formar para vencer ou formar para vir a ser?

Não poderia deixar de falar na primeira coluna em termos gerais do trabalho com o basquetebol. Considero o trabalho com basquetebol algo fascinante. Não bastasse o ensino da técnica exigir uma combinação de movimentos específicos como driblar, correr, saltar e arremessar etc. O basquetebol envolve além desses fatores, uma gama de conhecimentos específicos como noções de espaço e tempo, posicionamento de defesa, uma dualidade entre atacar e ser atacado tanto no ataque quanto na defesa (a defesa hoje em dia necessita atacar o ataque) a cada 24 segundos.

E um tipo de esporte onde tantos fatores inferem e cruzam informações simultâneas, é preciso procurar saber o que queremos passar aos nossos atletas e o que podemos alcançar com isso através dos anos.
Faço-me constantemente a mesma pergunta:

Formamos nossos jovens para tentar superar os desafios do esporte ou formamos para apenas vencer campeonatos?

Acredito que não há mal nenhum em querer vencer o campeonato, mas há mal em objetivar apenas isto em um trabalho de formação. Um esporte com extrema capacidade de variáveis dentro de quadra como brevemente citei no início deste texto, tem também, variáveis incríveis que são trabalhadas em quadra, mas inconscientemente levado para fora dela como concentração, tomada de iniciativa, espírito de grupo, perseverança, pensamento estratégico e outros tantos mais.

Quando pensamos em formação de atletas, devemos ter um pensamento amplo e buscar o aprendizado em outras esferas além da vitória apenas pela vitória. Devemos saber que precisamos dar ênfase à preparação técnica em seus fundamentos em geral, preparação tática gerando ao atleta uma melhor compreensão do jogo individual e coletivo, preparação física não apenas no que diz respeito à força e resistência, mas principalmente na base no que se refere aos atletas aprenderem a correr e se deslocar da melhor maneira (muitos atletas não têm uma boa técnica de corrida, um ótimo tema para uma futura coluna), preparação psicológica gerando um melhor conceito do atleta consigo mesmo diante do seu esforço e seus desafios, preparação coletiva propiciando que o atleta deva fazer o melhor dele para o bem do grupo, e por fim, uma formação complementar na qual envolve a relação deste atleta com sua família com seus amigos e criar um ambiente esportivo prazeroso e salutar.

Se nos voltarmos para esses tópicos, teremos em nosso campeonato a equipe campeã, mas certamente teremos não só na equipe campeã como em todas as outras equipes, a capacidade de analisar as pequenas vitórias alcançadas através dos treinamentos e jogos com o esforço dos atletas e os obstáculos superados. E assim, temos a possibilidade de mostrar que o esporte é muito mais que uma vitória ou derrota dentro de quadra. .O basquetebol é um estilo de vida que compreende variáveis levadas pro resto de sua vida. Dessa forma faremos à diferença naqueles que por ventura tiverem a chance de se tornarem jogadores profissionais e diferenciaremos também na vida daqueles que levarão o basquete como uma das melhores fases de aprendizado de sua vida. Sou fruto de professores/técnicos que trabalharam nesse ideal e só posso me dar à missão de dar continuidade neste sonho. O sonho de um basquete que não forme para apenas vencer, e sim, que forme para o atleta vir a ser alguém capaz de correr atrás de seus sonhos.

Resolvi escrever esta primeira coluna logo após assistir um vídeo de uma palestra na qual tratava justamente deste tema apresentado por Ricardo Bojanich - professor/técnico argentino das categorias de base do clube Gimnasia y Esgrima da Argentina. E gostaria de finalizar esta coluna com uma frase que ele cita na qual acredito ser em resumo, o que devemos tentar criar no interior de cada atleta:

“.. abrir sua cabeça para aprender
abrir seu coração para sacrificar-se..”


Só assim acredito que podemos evoluir cada dia mais.

Abraço a todos.

Rodrigo Galego.

domingo, 4 de maio de 2008

Prioridades em equipes esportivas nas suas diversas categorias

Neste meu primeiro contato com os leitores desse blog gostaria de abordar as prioridades para quem atua com o basquetebol nas suas diversas faixas etárias. Não pretendo aprofundar sobre os aspectos técnicos, táticos e psicossociais, mas, caso haja interesse, poderei tratar sobre eles em futuros textos.

Os planejamentos táticos, técnicos e psicológicos de uma equipe esportiva exigem um estudo prévio das condições oferecidas para o treinamento: os objetivos da equipe, o material humano que estará à disposição para a realização deste trabalho, e os princípios morais que irão nortear os critérios adotados pelos técnicos ou professores da equipe.

No início do trabalho devem ser analisadas as condições materiais, disponibilidades de horário para treinamento, filosofia do trabalho (formação, lazer, competição, etc.), formação dos profissionais que comporão a comissão técnica e as expectativas em relação aos resultados (curto, médio ou longo prazo).

É imprescindível antes de iniciar o planejamento técnico e tático de qualquer modalidade coletiva, definir alguns pontos sobre princípios éticos e de convivência da equipe.

O basquetebol como a maioria dos esportes, quando bem utilizado, é, sem sombra de dúvidas, um poderoso instrumento educativo. Independente do nível em que estamos atuando devemos priorizar o respeito ao ser humano, a sua individualidade, e as regras básicas de justiça e convivência social.

Deve-se desde cedo priorizar o aspecto coletivo do basquetebol acima do talento individual. Michael Jordan costumava afirmar que “talento vence jogos, mas o trabalho de equipe vence campeonatos”. Podemos notar, portanto, que um dos pontos mais importantes a se trabalhar deve ser o trabalho de equipe, a interação técnico-jogador, jogador-jogador e as dinâmicas de grupo.


PRIORIDADES NAS CATEGORIAS DE BASE (até os 13 anos)

É importante estabelecer desde cedo os princípios que nortearão os aspectos educativos nas equipes de base. Sabemos que a prática esportiva para a criança tem papel fundamental na formação da sua auto-estima, seu papel social e sua necessidade de pertencer a um grupo. Portanto, devemos ter consciência que atitudes impensadas ou que promovam discriminação em uma equipe iniciante, pode ter repercussões desastrosas na vida pessoal da criança e na sobrevivência da própria equipe.

Em vista disso, uma das prioridades na formação de uma equipe de base deve ser a preocupação com as normas que vão reger a conduta dos membros desta equipe.

Quando uma criança inicia sua vida esportiva a prioridade é a sua formação humana. Nesta fase é imprescindível fazer com que os iniciantes assimilem os valores éticos, a superação e o esforço, os quais mais tarde os distinguirão como desportistas e como seres humanos.

Nesta fase o treinamento deve ser voltado para a relação com os companheiros; uma preparação que envolva a coordenação motora; a consciência corporal; a ampliação do repertório motor; consciência dos elementos do jogo (bola, companheiros, situações espaciais, etc). Devemos afastá-los da hipervalorização da vitória, de avaliações precipitadas sobre resultados e da busca por medalhas e classificações finais. Neste ponto devemos educar também os pais, pois a ansiedade deles em relação a performance dos filhos, quando não controlada, pode prejudicar a participação da criança no campo esportivo.

Quanto ao trabalho técnico devemos introduzir os fundamentos do jogo priorizando a ludicidade no esporte, onde a criança possa desenvolver o maior repertório de movimentos sem preocupação com a técnica específica da modalidade. As brincadeiras e os jogos pré-desportivos devem nortear a programação de treinamentos (se é que podemos chamar assim esta fase de iniciação). Devemos levar sempre em conta que a maioria das crianças entra no esporte em primeiro lugar para se divertir e secundariamente em aperfeiçoar-se na modalidade praticada. O fundamento do passe deve ser bastante valorizado, pois este, é a essência do jogo coletivo. Os demais fundamentos devem ser trabalhados sem que se exija um nível alto de execução, mas fazendo com que os praticantes entendam a necessidade de se aprimorar cada vez mais em cada um deles.


CATEGORIAS INTERMEDIÁRIAS: (Dos 14 aos 17 anos)

Nesta fase deve-se priorizar a execução correta dos movimentos técnicos. É aqui que os jogadores adquirem os hábitos principais que irão desenvolver durante sua carreira desportiva. Para tanto devemos aprofundar os fundamentos individuais e coletivos.

Nesta fase devemos corrigir os “vícios” dos movimentos mal executados. O jogador deve passar o maior tempo possível testando movimentos, e observando outros jogadores de maior nível. É importante passar conceitos coletivos aos jogadores fazendo com que os mesmos entendam como ocorre o jogo e não executando estes movimentos de forma automática, sem uma reflexão.

Nesta etapa a formação técnica deve ser aliada aos conhecimentos táticos do jogo (falarei sobre os princípios táticos e pré-táticos em artigo posterior). É importante que o jogador aprenda a analisar a situação do jogo, entender as ações que acontecem e buscar soluções coletivas para elas. Deve ser estimulada a dimensão cognitiva de cada participante visando facilitar o trabalho físico e técnico que serão exigidos no jogo.

Preservar o espírito de conjunto e o respeito ao trabalho coletivo é fundamental. Muitos técnicos em busca da vitória imediata abrem mão dos princípios éticos e de convivência do esporte. A prioridade para o técnico deve ser estabelecer o seu critério ético, a segunda, ganhar. ”Se impomos nosso critério e ele é bom, é certo que mais cedo ou mais tarde venceremos”. (Manel Comás)

O técnico da equipe deve ter paciência com a evolução, pois a melhora nesta fase se dá de forma lenta, porém a assimilação será mais consistente.


CATEGORIA JUVENIL: (17 a 18 anos)

Nesta categoria é importante um aprofundamento dos princípios táticos do jogo e a lapidação técnica dos fundamentos. Os jogadores já devem estar maduros para encarar com mais seriedade e empenho os treinamentos, a competição e seus resultados. Devemos conhecer os objetivos que tentamos alcançar e os objetivos de cada jogador. Deve-se mostrar a importância da coesão do grupo para o alcance dos objetivos da equipe. A formação dos princípios morais e éticos realizados desde o início da vida esportiva será fundamental nesta etapa. Na verdade, esta formação acontecerá durante toda a carreira atlética tanto de jogadores como de técnicos.


CATEGORIA PRINCIPAL (adulto)

Ao chegar à categoria principal deve-se aproveitar ao máximo toda a performance técnica dos jogadores como também seu conhecimento tático, sempre em prol do trabalho coletivo.

O jogador deve persistir no seu aperfeiçoamento, pois, pela complexidade técnica e tática do jogo de basquetebol, não existe um jogador que saiba tudo do jogo. Mesmo os melhores jogadores do mundo ainda têm coisas a melhorar.

Nesta etapa o jogador deve ser eficiente e participativo. Deve ser obediente nas questões táticas e humilde para colocar sua individualidade à disposição do coletivo. Deve saber “ler” o jogo e fazer as opções corretas dentro da partida. Deve entender que a performance do jogo depende da aplicação no treinamento e que o esforço coletivo é o caminho mais seguro para as vitórias.


Todas estas prioridades devem ser conduzidas por professores/técnicos que realmente acreditem no papel educativo do esporte, e que entendam que as vitórias em jogos são passageiras, mas a formação humana é o que realmente ficará na vida dos seus comandados.

Até o próximo artigo!

Ronaldo Pacheco