segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O que aprender com o basquetebol?

Muitos esperam aprender a fazer cestas, ganharem milhões, serem famosos e reconhecidos nas ruas ou serem heróis, mas o que se aprende realmente jogando basquete? O Basquete é um esporte de grupo, de equipe. Não se joga nem se ganha sozinho. Um depende do outro para que o jogo aconteça. É fato comprovado pela história, nenhum grande jogador é campeão sozinho, o grande time vencedor do Chicago Bulls levou 6 anos após a chegada de Michael Jordan para vencer o primeiro campeonato da NBA. Não bastava ter um gênio, era necessário construir uma equipe.

O treinamento de um grupo de atletas deve ter o ensino do drible, do passe, do arremesso, da marcação, a serviço de uma meta, de um projeto maior do que, simplesmente, ensinar o jogo de basquete.

Ao se iniciar o treinamento de um grupo de atletas definir a filosofia de trabalho é um dos primeiros passos.

Assumir uma filosofia, um pensamento, algo que reúna que sintetize o pensamento de todos. É com base nesta filosofia, usando ela como pilar que se inicia a construção de um grupo. Esta base tem que ser sólida e agregar valores da sociedade. Essencial neste momento é formar primeiro o homem, o ser humano: caráter, honestidade, autoconfiança, humildade, solidariedade, reconhecimento, devem estar presentes. Como conseqüência teremos um “atleta” na essência da palavra.

O caminho que se trilha deve estar recheado com os fundamentos do basquete, mas a essência é a formação do ser humano. Capaz de perceber que do outro lado, como adversário, está outro ser humano que merece respeito e admiração, pois no mínimo tem um ponto em comum, “o basquete”. Capaz de perceber que ao seu lado existem mais seres humanos, que acertam e erram, e que continuam ao seu lado.


Viver e entender o paradoxo de que o adversário é companheiro e que companheiro também é concorrente, consolida a visão do ser humano que vive em sociedade, em grupo, que partilha a alegria e a dor, a frustração e a euforia e encontra no semelhante o exemplo e o desafio.
Para a criança, aprender brincando é parte do crescimento. Desde os primeiros momentos, as primeiras brincadeiras, a filosofia do técnico deve estar presente e servir de parâmetro para orientar os desafios. Se o aluno que termina primeiro é sempre o que recebe a glória estaremos dizendo que o que vale é vencer. Por outro lado, se valorizamos aquele que não chegou primeiro, mas se esforçou para concluir estaremos jogando luz sobre o esforço, a dedicação. Desta forma, pode surgir a solidariedade, o momento em que vencer pode ser partilhado com alguém que ajudou na conquista. A filosofia de ensinar algo mais do que simplesmente jogar basquete tem que estar à frente, orientando, e ao mesmo tempo dentro de tudo o que se faz, permeando todas as ações. Dar oportunidade a todos, mesmo àqueles que não parecem ter aptidão, acreditar na construção dos alicerces da formação do ser humano, mesmo que não possam ser vistos.

Com o basquete, temos a oportunidade de aprender a “ser gente” e, de quebra, aprender a defender, passar, driblar e fazer cestas.

Eis o que aprender...



Marco Costa

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Técnico de Basquetebol: Vocação, preparação ou experiência?

No meu artigo anterior me referi às prioridades em equipes esportivas nas diversas categorias. Creio ser fundamental este embasamento para que se possa realizar um trabalho adequado que leve os praticantes da modalidade a ter um correto desenvolvimento motor, social e afetivo dentro do esporte.

No entanto, é importante falar das pessoas que devem dirigir as aulas ou treinos dessa modalidade esportiva.

Durante muito tempo tivemos ex-jogadores comandando escolinhas esportivas ou equipes de alto nível, baseando seu trabalho em suas experiências anteriores, sem buscar informações atualizadas sobre psicologia, administração esportiva ou desenvolvimento humano. Quando muito, se atualizavam em cursos técnicos ou oficinas de basquetebol que tratavam muito da técnica do jogo, alguma coisa da tática, e quase nada sobre os temas acima mencionados. Hoje já começamos a notar uma melhor seleção na escolha de técnicos com formação em educação física, que procuram se atualizar a partir da leitura de livros e trabalhos internacionais nas diversas áreas que envolvem o treinamento esportivo.

É lógico que ter conhecimento da parte teórica do jogo não assegurará sucesso na carreira de técnico, no entanto o embasamento teórico é um suporte fundamental que será melhor desenvolvido a partir da experiência prática do jogo, da análise dos seus erros e acertos e principalmente na humildade para ouvir e assimilar críticas construtivas.

Um técnico é o responsável por todo o funcionamento de uma equipe e, quando me refiro a “funcionamento” estou me referindo ao tratamento da complexa engrenagem de um grupo social que se propõe a atuar em conjunto, em prol de um objetivo comum. Esta “máquina humana” para conquistar seus objetivos deve estar ajustada nos seus relacionamentos (estar coesa); deve estar disposta a um sacrifício coletivo a partir do sacrifício individual (cada um contribuir da melhor forma no desempenho do seu papel para o sucesso da equipe); deve ter um conhecimento do jogo nos seus aspectos táticos e um bom desenvolvimento dos fundamentos técnicos para que possam ser devidamente utilizados dentro da tática. Estas diversas tarefas são complementares e necessitam de um planejamento e acompanhamento incessante por parte do técnico. Não se pode admitir que o tratamento que um técnico dê a estes aspectos seja feito de forma empírica. Por isso a necessidade de estudos, planejamentos e aprofundadas análises críticas do seu desempenho.


A partir de estudos e das observações proporcionadas por estes anos na prática do basquetebol, me vi muitas vezes adotando posturas que me fizeram refletir sobre os diversos tipos de conduta dos técnicos ao lidar com sua equipe:
  • Técnico Torcedor: Confunde a paixão pelo clube ou pelo esporte com a sua função. Tem atitudes completamente passionais. Exclui do grupo os que não estão dando resultados imediatos. Quer a vitória incessantemente, sem fazer uma análise racional das condições de trabalho, da própria equipe e do nível da competição. No banco, grita , xinga, torce e dá poucas instruções úteis à equipe. Perde a cabeça com o juiz cada vez que o mesmo comete qualquer erro. *
  • Técnico Exibicionista: Considera-se o eixo central da partida. Coloca a culpa nos jogadores sempre que a equipe perde. Suas broncas são sempre em voz alta para que a torcida possa sentir a sua presença e seu pulso firme com a equipe. Quando a equipe está perdendo com grande diferença, fica quieto, mostrando ao público que não faz parte daquele grupo perdedor. Faz pedidos de tempo desnecessários para que notem sua presença no jogo. Fala sempre na primeira pessoa: “minha equipe”, “meus atletas”, em compensação quando as coisas não vão bem diz: “a equipe perdeu”, “eles não mereceram a vitória”, “a equipe não teve garra”, etc. Se isenta da responsabilidade quando o resultado não é favorável.
  • Técnico Autoritário: Todos devem seguir as suas idéias. Não cabe a ninguém da comissão técnica, muito menos aos jogadores discutir suas opiniões, devem cumpri-la; Assume os erros, mas não aceita as críticas.
  • Técnico Bonzinho: Conhece os princípios básicos do jogo, mas nunca entra em confronto com as idéias dos jogadores para não criar problemas para equipe. Prefere abrir mão de algumas convicções de jogo para não ferir o ego e algum atleta que ele julgue muito importante para a equipe. Procura agradar a todos para que seja do agrado de todos também.
  • Técnico Teórico: Estuda o jogo, conhece bem os diversos procedimentos técnicos e táticos, mas tem dificuldade em transmiti-los aos jogadores. Não tem paciência com os erros por achar a execução muito simples; Não consegue lidar com os aspectos emocionais dos jogadores. Na maioria das vezes não consegue entender as situações de fracasso já que fez tudo de “acordo com o manual”.
  • Técnico Democrático/Educador: Aberto ao diálogo com toda a comissão técnica e jogadores. Discute com a equipe suas opiniões. Tenta fazer com que toda a equipe compreenda as opções tanto táticas como técnicas. Preocupa-se com as questões particulares de cada um. Entende os erros, corrige-os e admite suas próprias falhas. Sabe respeitar a individualidade de cada jogador, suas características psicológicas e seus momentos emocionais. Assume as responsabilidades pelas derrotas perante os outros, porém conversa com sua equipe sobre os erros que a originaram tentando corrigi-los. Sabe ouvir as críticas sem levar para o campo pessoal. Sabe chamar a atenção na hora e da forma devida. Faz valer a sua autoridade pela competência demonstrada.
É claro que posso ter “caricaturado” as situações acima expostas, mas creio que nós técnicos, já passamos por algumas dessas fases em diversos momentos de nossa atuação. O importante é que possamos fazer uma análise para que possamos atender as nossas perspectivas em relação a esta profissão.

Ser técnico de uma modalidade tão complexa como o basquetebol exige bastante conhecimento nas diversas áreas ligadas ao jogo e ao relacionamento humano, portanto, respondendo a provocação do título do artigo, creio que para ser um bom técnico de basquetebol é necessário, muito conhecimento teórico (obtido através do estudo incessante), o aproveitamento das experiências vividas (com uma análise criteriosa) e um pouco de vocação. Tudo isso cercado por uma grande dose de paciência, obstinação e sentir a necessidade de estar aprendendo sempre.

Prof. Ronaldo Pacheco

terça-feira, 2 de setembro de 2008

SUPERANDO OS DESAFIOS

Serei sempre repetitivo em falar que o trabalho com basquetebol proporciona aprendizados além das quadras. Mas para esses aprendizados serem interiorizados em cada atleta, diversos desafios precisam ser superados dentro de quadra tanto nos treinamentos quanto no jogo.


O medo de errar talvez seja uma das maiores entraves para atletas e técnicos.

Para os atletas, se o medo de errar for maior que a vontade de aprender e se experimentar, pode causar uma dificuldade em querer aperfeiçoar seus recursos técnicos.

Quem nunca viu em um treino algum jogador sair livre para o contra-ataque pela esquerda, por exemplo, e mudar para a direita com medo de errar e garantir os pontos? A mesma situação serve invertida também para os canhotos.

Os pontos são convertidos no coletivo, mas a chance do atleta de ganhar a confiança necessária pelo lado que lhe causa desconforto é desperdiçada.

E sem notar, o atleta vai deixando de acrescentar variações em suas habilidades por confortar-se com o que já tem de muito bom. Com o tempo, os adversários vão identificando suas limitações e este vai se tornando alvo fácil de ser marcado ou anulado. Quando mais velho, vão lhe incutir uma visão reducionista de que se não aprendeu lá atrás, não aprenderá mais.

Dessa forma, percebe-se o quanto o atleta se “sabota” através do tempo de várias formas como tentarei citar em alguns exemplos:

- Aquele atleta que é bom do arremesso de longa distância e deixa de especializar e acrescentar no seu treino o trabalho de infiltrações e bandejas.

- Aquele que tem ótimo domínio e corte para infiltrar, mas que deixa de treinar incessantemente seus arremessos de curta e longa distância.

- Aquele que é um grande pontuador e deixa de dar atenção ao aprendizado em seu deslocamento em base de marcação e ser um bom marcador.

- Aquele que é amigo e divertido com todos os colegas de equipe, mas que deixa de lado a capacidade de cobrar empenho de seus companheiros e ser duro quando necessário.

- Ou aquele que é aguerrido, empenhado e que cobra de todos os companheiros de equipe, mas esquece de aproveitar os momentos de prazer que o basquete proporciona, deixa de reforçar os laços de amizade e “curtir” a alegria que é jogar basquetebol.

É impossível ao tratar deste tema, não lembrar uma frase marcante que diz algo sobre erros e acertos dita por Michael Jordan:

"Errei mais de nove mil arremessos na minha carreira. Perdi mais de 300 jogos. Em 26 ocasiões, acreditaram que eu ganharia o jogo no arremesso decisivo e errei. Fracassei, fracassei muito na minha vida. E é por isso que eu sou um vencedor."


Acima de tudo, é preciso saber que você sempre pode aprender algo e superar suas deficiências em qualquer idade. Acreditar nisso, é o primeiro passo para fazer seu trabalho e esforço valer a pena.

Ao fazer esta declaração a favor de experimentar e testar suas possibilidades sempre, não quero que seja confundido com o descompromisso de fazer qualquer coisa e alegar que está apenas tentando evoluir. Existe o momento certo de se testar e experimentar, e também existe o momento certo de praticá-lo. Muitos atletas não treinam com a devida intensidade e avidez por melhorar se guardando para o jogo.

Descobrir esse momento em que se deve testar e desafiar seus próprios limites é que traz o aprendizado necessário tanto como atleta como para a vida pessoal. Assim você passa a se conhecer melhor e entende que ter certo medo (é preciso transformar o medo em um estresse positivo) é necessário pra te deixar concentrado desde que ele não supere sua busca pela melhoria.

Lembre-se: Quando estiver em quadra, você estará representando seus companheiros que estão no banco e outros que nem escalados pro jogo foram. Precisará com o tempo saber mesclar a responsabilidade de representar seus companheiros de equipe com concentração e dedicação, mas que essa responsabilidade não se torne um peso onde o faça temer falhar.

Só essa busca por aprender a cada dia te fará crescer.

Observe em si seus maiores medos e falhas e não se martirize por isso. Todos têm limitações. O importante ao identificá-los, é conversar com seu técnico sobre como pode melhorar e começar a treinar.

Nada se compara a sensação de realização quando se consegue praticar algo fruto do próprio esforço.

E aí !? Está pronto para tentar ?

A todos que se sentiram desafiados por esta coluna a se conhecer melhor e seguir em frente independente do que aconteça, deixo-os com uma frase que gosto muito e que de tempos em tempos, leio pra lembrar que vale a pena lutar pelo que acreditamos:

“Por que devemos continuar, mesmo que todas as circunstâncias pareçam desencorajadoras? Porque pode dar certo. Mesmo que não dê totalmente certo, a simples busca de obter sucesso faz com que olhemos para frente e não para trás.”

Dale Carnegie




Abraço a todos.


Rodrigo Galego