terça-feira, 9 de setembro de 2008

Técnico de Basquetebol: Vocação, preparação ou experiência?

No meu artigo anterior me referi às prioridades em equipes esportivas nas diversas categorias. Creio ser fundamental este embasamento para que se possa realizar um trabalho adequado que leve os praticantes da modalidade a ter um correto desenvolvimento motor, social e afetivo dentro do esporte.

No entanto, é importante falar das pessoas que devem dirigir as aulas ou treinos dessa modalidade esportiva.

Durante muito tempo tivemos ex-jogadores comandando escolinhas esportivas ou equipes de alto nível, baseando seu trabalho em suas experiências anteriores, sem buscar informações atualizadas sobre psicologia, administração esportiva ou desenvolvimento humano. Quando muito, se atualizavam em cursos técnicos ou oficinas de basquetebol que tratavam muito da técnica do jogo, alguma coisa da tática, e quase nada sobre os temas acima mencionados. Hoje já começamos a notar uma melhor seleção na escolha de técnicos com formação em educação física, que procuram se atualizar a partir da leitura de livros e trabalhos internacionais nas diversas áreas que envolvem o treinamento esportivo.

É lógico que ter conhecimento da parte teórica do jogo não assegurará sucesso na carreira de técnico, no entanto o embasamento teórico é um suporte fundamental que será melhor desenvolvido a partir da experiência prática do jogo, da análise dos seus erros e acertos e principalmente na humildade para ouvir e assimilar críticas construtivas.

Um técnico é o responsável por todo o funcionamento de uma equipe e, quando me refiro a “funcionamento” estou me referindo ao tratamento da complexa engrenagem de um grupo social que se propõe a atuar em conjunto, em prol de um objetivo comum. Esta “máquina humana” para conquistar seus objetivos deve estar ajustada nos seus relacionamentos (estar coesa); deve estar disposta a um sacrifício coletivo a partir do sacrifício individual (cada um contribuir da melhor forma no desempenho do seu papel para o sucesso da equipe); deve ter um conhecimento do jogo nos seus aspectos táticos e um bom desenvolvimento dos fundamentos técnicos para que possam ser devidamente utilizados dentro da tática. Estas diversas tarefas são complementares e necessitam de um planejamento e acompanhamento incessante por parte do técnico. Não se pode admitir que o tratamento que um técnico dê a estes aspectos seja feito de forma empírica. Por isso a necessidade de estudos, planejamentos e aprofundadas análises críticas do seu desempenho.


A partir de estudos e das observações proporcionadas por estes anos na prática do basquetebol, me vi muitas vezes adotando posturas que me fizeram refletir sobre os diversos tipos de conduta dos técnicos ao lidar com sua equipe:
  • Técnico Torcedor: Confunde a paixão pelo clube ou pelo esporte com a sua função. Tem atitudes completamente passionais. Exclui do grupo os que não estão dando resultados imediatos. Quer a vitória incessantemente, sem fazer uma análise racional das condições de trabalho, da própria equipe e do nível da competição. No banco, grita , xinga, torce e dá poucas instruções úteis à equipe. Perde a cabeça com o juiz cada vez que o mesmo comete qualquer erro. *
  • Técnico Exibicionista: Considera-se o eixo central da partida. Coloca a culpa nos jogadores sempre que a equipe perde. Suas broncas são sempre em voz alta para que a torcida possa sentir a sua presença e seu pulso firme com a equipe. Quando a equipe está perdendo com grande diferença, fica quieto, mostrando ao público que não faz parte daquele grupo perdedor. Faz pedidos de tempo desnecessários para que notem sua presença no jogo. Fala sempre na primeira pessoa: “minha equipe”, “meus atletas”, em compensação quando as coisas não vão bem diz: “a equipe perdeu”, “eles não mereceram a vitória”, “a equipe não teve garra”, etc. Se isenta da responsabilidade quando o resultado não é favorável.
  • Técnico Autoritário: Todos devem seguir as suas idéias. Não cabe a ninguém da comissão técnica, muito menos aos jogadores discutir suas opiniões, devem cumpri-la; Assume os erros, mas não aceita as críticas.
  • Técnico Bonzinho: Conhece os princípios básicos do jogo, mas nunca entra em confronto com as idéias dos jogadores para não criar problemas para equipe. Prefere abrir mão de algumas convicções de jogo para não ferir o ego e algum atleta que ele julgue muito importante para a equipe. Procura agradar a todos para que seja do agrado de todos também.
  • Técnico Teórico: Estuda o jogo, conhece bem os diversos procedimentos técnicos e táticos, mas tem dificuldade em transmiti-los aos jogadores. Não tem paciência com os erros por achar a execução muito simples; Não consegue lidar com os aspectos emocionais dos jogadores. Na maioria das vezes não consegue entender as situações de fracasso já que fez tudo de “acordo com o manual”.
  • Técnico Democrático/Educador: Aberto ao diálogo com toda a comissão técnica e jogadores. Discute com a equipe suas opiniões. Tenta fazer com que toda a equipe compreenda as opções tanto táticas como técnicas. Preocupa-se com as questões particulares de cada um. Entende os erros, corrige-os e admite suas próprias falhas. Sabe respeitar a individualidade de cada jogador, suas características psicológicas e seus momentos emocionais. Assume as responsabilidades pelas derrotas perante os outros, porém conversa com sua equipe sobre os erros que a originaram tentando corrigi-los. Sabe ouvir as críticas sem levar para o campo pessoal. Sabe chamar a atenção na hora e da forma devida. Faz valer a sua autoridade pela competência demonstrada.
É claro que posso ter “caricaturado” as situações acima expostas, mas creio que nós técnicos, já passamos por algumas dessas fases em diversos momentos de nossa atuação. O importante é que possamos fazer uma análise para que possamos atender as nossas perspectivas em relação a esta profissão.

Ser técnico de uma modalidade tão complexa como o basquetebol exige bastante conhecimento nas diversas áreas ligadas ao jogo e ao relacionamento humano, portanto, respondendo a provocação do título do artigo, creio que para ser um bom técnico de basquetebol é necessário, muito conhecimento teórico (obtido através do estudo incessante), o aproveitamento das experiências vividas (com uma análise criteriosa) e um pouco de vocação. Tudo isso cercado por uma grande dose de paciência, obstinação e sentir a necessidade de estar aprendendo sempre.

Prof. Ronaldo Pacheco

7 comentários:

Jalber Rodrigues disse...

Excelente artigo Prof. Ronaldo!!! Tento sempre ficar atento a essas posturas e as vezes inconscientemente assumimos algumas dela. É importante este seu "lembrete" para que fiquemos sempre atentos a nossa responsabilidades na formação de nossos Alunos/atletas.
Aproveito a oportunidade para divulgar o trabalho do basquetebol fora dos grandes centros onde tudo e feito com muito esforço e dificuldade. Peço que leia o material do blog e do site de um projeto que vem buscando seu espaço na difícil tarefa de educar para o esporte e pelo esporte. E sugiro como sugeri para o Rodrigo Alves do blog rebote um trabalho para divulgar o trabalho de base que é feito no interior que quase sempre fica escondido por falta de apoio e estrutura.
http://www.basquetecataguases.com.br e http://basquetebol-kta.blogspot.com .
Só peço desculpas pela dureza de alguns coméntarios da última postagem, pensei em "censurar" mas apezar das palvras asperas senti sinceridade do atleta que postou o comentário e decidi deixar.
Abraço e o pratica agora e leitura obrigatória. Parabéns!!!

Piqueno disse...

Muito legal o blog, passarei por aqui mais vezes1!!

Daniel Farinha disse...

Professor, o quanto um técnico pode influenciar no jogo e em quais situações?

Atenciosamente,

Prof. Daniel Veloso

Anônimo disse...

Caro Daniel,
Seria imprudente colocar em porcentagem a influência de um técnico em um jogo. Creio que a maior parte da influência de um técnico acontece durante o treino e isso depende de um bom planejamento anterior. Durante um jogo acredito que o técnico tenha também um papel fundamental, em relação as opções táticas escolhidas antes e durante o jogo, as substituições, as intruções de forma clara para os atletas, o controle emocional que deve ser passado à equipe, e uma análise clara dos problemas e das capacidades da equipe durante o jogo. Não vamos nos esquecer que cada jogo nos traz uma história diferente e que por isso mesmo fica difícil aqui, hipotetizar situações mais claras de como um técnico poderia ou deveria agir.
Espero ter respondido seu questionamento e me coloca à disposição para novos comentários.

Anônimo disse...

Caro Jálber,
Vi seu blog e parabenizo pelo trabalho realizado. Só quem trabalha ou já trabalhou com o esporte amador sabe das dificuldades enfrentadas e da alegria que sentimos ao completarmos cada etapa. Parabéns, continue na luta e me coloca à disposição para trocarmos idéias. Abraços,
Ronaldo Pacheco

Histórias e Basquete disse...

parabéns Ronaldo, quanto mais exemplos como esse melhor!!!!! Um abração!!!!!!

Anônimo disse...

Mtu bom esse blog... Meu tecnico/amigo/professor eh o Técnico Democrático/Educador... Agradeço mtu a ele por tudo q sei sobre basket hj... Abraço Jalber...
Assistencia Basquetebol Cataguases
João Pedro Graciolli Silva 15 anos

Abraço!!!